Velhos do Restelo sobre o Bitcoin, factos e esclarecimentos

Velhos do Restelo sobre o Bitcoin, factos e esclarecimentos

rítica, a do medo e a da descrença. A primeira porque não querem disrupção no actual sistema financeiro, onde coincidentemente eles estão bem aninhados. A segunda porque não acreditam que a descentralização do dinheiro seja algo positivo para o mundo, tal como a descentralização do governo - a democracia - e a descentralização da informação - a internet.

É um Ponzi, um esquema de pirâmide, não é seguro

Os Velhos do Restelo têm razão em algumas coisas. O espaço das criptomoedas e do blockchain, está pejado de ladrões e malfeitores, muita banha da cobra e esquemas, as corretoras são inseguras e frequentemente hackadas. Na realidade, excepto alguns projectos, muito poucos, que lutam pela liberdade e privacidade, e que são importantes, a maioria dos projectos na área das cripto são esquemas fraudulentos, ou não trazem nada de novo, apenas cópias modificadas de outros projetos, ou pior, moedas centralizadas como é o caso do Ripple ou do projecto Libra do Facebook. Embrulhar o Bitcoin nesta confusão, é no entanto o grande erro nesta argumentação.

O Bitcoin é a forma de dinheiro mais seguro alguma vez desenvolvido e provavelmente a nossa melhor defesa contra a eminente ameaça do autoritarismo digital e a engenharia social em massa. Por muito que os Velhos do Restelo, alguns deles influentes personalidades, nos queiram fazer acreditar, essa é a verdade.

Podes ser hackado a qualquer momento

Um argumento muito difundido centra-se na insegurança das correctoras e no hack a uma dessas exchanges, a Quadriga. Cerca de $135 milhões em criptomoedas perderam-se quando o gestor da correctora morreu, levando consigo a informação sobre as chaves privadas. Embora seja importante alertar que os utilizadores perderam grandes quantidades de dinheiro, não se pode atribuir culpas à criptomoeda. Perderes os teus Bitcoin quando eles são controlados por outra entidade é como perderes o dinheiro que tinhas no banco se hackarem a tua conta ou roubarem-te o ouro que tinhas num cofre no banco, se o banco for assaltado. Em todos estes casos o problema é o sistema de segurança do banco, não o tipo de activos que tinhas guardado. O Bitcoin é tão responsável pelo hack de uma exchange como a internet é responsável pelo falhanço da última startup.

O mantra "not your key, not your Bitcoin", aplica-se perfeitamente a estes casos e é um aviso constante para não deixares a terceiros o controlo do teu Bitcoin. Os utilizadores, de Bitcoin, têm completa soberania financeira sobre os seus Bitcoins, seguros através de criptografia. Se não tiveres a minha chave privada, a minha "password", não consegues roubar-me os Bitcoins. Isto serve tanto para ladrões como companhias gigantes ou potências mundias, como a China ou os Estados Unidos. Nenhuma outra forma de dinheiro pode oferecer-te este tipo de segurança.

David Gerard alega, num artigo para o Foreign Policy, que guardar o dinheiro debaixo do colchão seria mais seguro que o Bitcoin. Não só este argumento é perigoso como é estúpido. Hoje em dia, podes guardar quantos Bitcoin quiseres numa pen USB ou até uma brain wallet, em que memorizas uma passphrase que te dá acesso às tuas moedas e podes atravessar fronteiras com 1 milhão de euros na tua cabeça!!

Não tem utilidade alguma

Gerard vais mais longe e questiona qual o uso de uma moeda onde para teres controlo dela tens que ter controlo sobre a tua password? Basicamente o que ele está a dizer é que a única forma de dinheiro que faz sentido, é uma em que entregas o controlo a um terceiro!! Actualmente na China, o Partido Comunista obrigou quase toda a população em sistemas como o Alipay ou o WeChat, onde não só exercem facilmente vigilância e controlo sobre o dinheiro e pagamentos mas, também orientam os cidadãos com incentivos e penalizações, como parte do maior projecto de engenharia social da História da humanidade. Ter controlo sobre os nossos dados e o nosso dinheiro será cada vez mais importante para conseguirmos manter a internet e a nossa sociedade aberta e livre, numa altura em que entramos na Era da vigilância em massa e num mundo de dinheiro virtual.

Na verdade, é preciso algum tempo para entender o Bitcoin. Pode demorar dias ou até algumas semanas até que te sintas confortável para usar o Bitcoin no teu dia-a-dia mas, o facto é que essa informação está disponível, na internet, de forma gratuita, para qualquer pessoa no mundo. Se optares por sacrificar a oportunidade para teres controlo sobre os teus bitcoins, por conveniência, e optares por um terceiro para guardar as tuas moedas, então podes tomar essa decisão. Mas qualquer um pode optar por ser o seu próprio banco. Uma opção muito poderosa para as pessoas que não têm qualquer controlo sobre o seu dinheiro. Isto torna-se extremamente importante para quem está do lado de fora das nossas economias avançadas e relativamente estáveis, onde a maioria dos críticos do Bitcoin vivem.

O Bitcoin é uma tecnologia muito recente, e tem ainda um longo caminho para percorrer. Não é tão privado, rápido ou acessível como pode e será! Mas oferece, sem dúvida, uma enorme melhoria num aspecto importante nas nossas vidas. O Bitcoin permite-te enviar, pela primeira vez na história, dinheiro para alguém do outro lado do mundo, em minutos, ou segundos com a Lightning Network, sem teres que te preocupar. Se comparares isto com o modelo actual, onde depois de fazeres uma transferência, por vezes esperas dias para que seja validada, tem custos enormes (Paypal, bancos, Western Union, etc...) e por vezes ainda ficas na ansiedade s a transferência é de facto feita.

Contrariamente ao que os Velhos do Restelo te tentam impingir, com a sua política do medo sobre fraudes e riscos, quando eu faço uma transferência em Bitcoin para ti, ela vai chegar até ti! Independentemente de tudo! Não há censuras, não há ninguém a meio, não há confiscação ou controlo. Ninguém pode parar essa transferência. Os críticos pintam o Bitcoin com um sistema que não funciona mas, ao contrário do Visa ou Mastercard, que eles sim 'avariam' de vez em quando, o teu acesso ao Bitcoin não pode ser travado, ou 'avariado', ou censurado. Mesmo que o governo desligue a internet. Actualmente estão a ser desenvolvidos infraestruturas de satélite, mesh networking e ondas rádio. Quer seja com um dispositivo satélite, ou até por ondas de rádio, podes enviar e receber Bitcoins de qualquer parte do mundo!

Muito lento, ineficiente, não consegue crescer

Os críticos costumam alegar que o Bitcoin é muito lento, usa muita energia e que não consegue escalar, não consegue crescer. O que muitos não entendem é que isso são caratcterísticas, não defeitos! O arquitecto, ou arquitectos, do Bitcoin e a actual comunidade fizeram uma cedência, escolhendo a segurança e a resistência à censura em vez da velocidade. A boa notícia é que existem tecnologias a funcionar em cima do Bitcoin, a Lightning Network, que permite um enorme número de transacções, em Bitcoin, com a mesma segurança e a mesma, ou mais, privacidade. Podendo até superar o actual sistema financeiro em termos de rapidez e escalabilidade.

Mesmo a LN, quando referida, é encarada como uma experiência, e que é centralizada... A LN permite milhares, se não milhões de pagamentos, que são encarados como uma única transacção na blockchain, a rede de Bitcoin, no nível de base. Os pagamentos Lightning são instantâneos, globais e são muitas vezes encaminhados pela rede Tor. Enquanto hoje, um governo que queira e tenha recursos para isso, pode analisar as transacções feitas na rede Bitcoin, escrutinando a blockchain. Usando a Lightning Network, torna essa investigação muito mais difícil, uma vez que as transacções efectuadas dentro de um canal de pagamento aparecem na blockchain agrupadas numa única transacção e são conhecidas apenas pelos emissor e o receptor e mesmo os nós a meio, caso sejam necessários, não têm conhecimento da origem ou do destino do pagamento. Quanto a ser centralizada, a resposta curta é não. Não é! Tal como a rede Bitcoin, não há um ponto de ruptura.

Só existem 21 milhões

Sim, só existirão 21 milhões de Bitcoin e 18 milhões já estão em circulação. Os restantes serão libertados, como recompensas àqueles que oferecem segurança e estabilidade á rede, durante os próximos 120 anos. O Bitcoin é um sistema deflacionário, com uma politica monetária conhecida e transparente, onde nenhum gestor, CEO, governo ou ditador pode decidir imprimir mais dinheiro e desvalorizar o dinheiro do resto das pessoas. O criador do Bitcoin, Satoshi Nakamoto, foi bem claro que o Bitcoin deveria ser uma alternativa aos modelo actual de Banco Central e ao poder absoluto sobre o dinheiro. O monopólio do dinheiro pode até parecer-nos "normal", afinal crescemos com isso mas, na realidade isso causa miséria e sofrimento a biliões de pessoas pelo mundo fora que são apanhadas na hiperinflação, crises monetárias, vigilância finaceira, sanções e controlo de capitais. Torna também mais fácil que um governo possa imprimir dinheiro para fazer uma guerra, por exemplo!

É um despedício de energia, o aquecimento global, a Greta...

De repente, quando se fala em Bitcoin, os Velhos do Restelo transformam-se em Gretas Thunbergs!! Os críticos adoram este argumento. Baseando-se, normalmente, num artigo duvidoso do Digiconomist criado sem qualquer conhecimento científico sobre a industria da electricidade, sistemas de abastecimento, desmistificado aqui. Hoje, estima-se que mais de 75% da energia usada pelo Bitcoin provém de fontes renováveis com tendência a aumentar no futuro. Mais de metade do mining de Bitcoin é feito numa parte da china, onde a energia é quase exclusivamente hidroeléctrica. Portanto sim, o Bitcoin usa muita energia, da mesma forma que o automóvel gasta mais energia que o cavalo, ou o frigorífico gasta mais que um balde de gelo, ou uma máquina de lavar gasta mais energia que o trabalho de lavar à mão. Ainda assim, o Bitcoin está a descobrir novas fontes de energia hidroeléctrica, geotermal, solar e eólica que seria de outra forma desperdiçada ou nem sequer seria utilizada, talvez até ajudando-nos a por um fim à Era do carbono!

O Bitcoin só serve para dissidentes e anarquistas

Enquanto o Bitcoin pode ser apreciado por quem tenha ideologias libertárias, já que permite ter soberania financeira e liberta-te do controlo do estado, pode também ser encarado do ponto de vista do progressismo. O Bitcoin pode ser comparado a outras tecnologias como a democracia ou a internet. Tecnologias que obliteraram a tirania do poder político e o controlo corporativo da informação. Através da democracia, os cidadãos podem controlar o poder de reis e ditadores e através da internet, os cidadãos fora das classes governativas ou das classes mais ricas têm agora acesso a todo o conhecimento do mundo e têm uma voz pública forte.

Da mesma forma o Bitcoin vai retirar o monopólio do bancos centrais, do Estado e das empresas sobre o dinheiro. Daqui a 100 anos, talvez olhemos para trás e achemos uma ideia completamente atrasada e errada que uma pequena elite de pessoas tivesse controlo sobre o dinheiro. Tal como fazemos achamos agora sobre a tirania política ou notícias controladas Estado.

O Bitcoin é uma rede obscura, só usado por criminosos e traficantes

Mais um clássico dos Velhos do Restelo. Os mesmos argumentos, baseados no medo, foram também usados por reis, elites e ditadores quando o povo exigiu que eles se retirassem e entregassem o poder. Ou por grandes companhias telefónicas, organizações de media e regimes de propaganda no início da internet. Mas, ao invés de trazer instabilidade e crime ás nossas sociedades, a democracia trouxe avanços históricos na inovação, prosperidade, paz e bem estar social. E ao invés de se tornar um antro de criminosos a internet pôs todo o conhecimento humano na nossa mão, deu um megafone global a jornalistas de investigação a uma enciclopédia mundial nas mãos dos estudantes. E embora os críticos tentem vincular o Bitcoin com actividades criminosas, esquecem-se de mencionar que todos os crimes financeiros e de tráfico de drogas, pessoas, armas são cometidos dentro do sistema financeiro existente, onde ocorrem triliões, ou trilhões, de dólares em corrupção, auxiliados por bancos como HSBC ou Wells Fargo.

Os críticos passam sempre ao lado de um aspecto importante do ponto de vista dos direitos humanos. Quer estejas preso a um sistema de pagamentos centralizade como o WeChat, usado para rastrear a tua vida, ou a conta bancária do teu jornal foi congelada por um ditador ou os Estados Unidos aplicou sanções no teu país, castigando-te a ti pelos crimes dos teus governantes, o Bitcoin é uma saída!

No vídeo acima, Andreas Antonopolous explica o porquê do Bitcoin ser uma saída do sistema financeiro actual.

O maior potencial do Bitcoin é ajudar os mais vulneráveis deste planeta, aqueles sem contas bancárias, identidades ou acesso ao sistema financeiro. Agora, com apenas um telefone e uma ligação à internet, qualquer pessoa pode receber bitcoin de qualquer outra pessoa no mundo, em minutos, por uma pequena taxa, sem possibilidade de censura ou apreensão, sem precisar pedir permissão a ninguém e sem precisar provar uma identidade.

Nos próximos anos, à medida que a infraestrutura, a liquidez local e os pontos de troca aumentarem, o Bitcoin terá um grande impacto na ajuda externa e humanitária. Indivíduos, instituições de caridade e governos democráticos não precisarão mais cumprir ou mesmo lidar com ditadores que governam a maioria das pessoas mais pobres do mundo.

Talvez a informação mais surpreendente acerca do Bitcoin que poucos o conhecem ou sabem o que é. 10 anos desde o início do projeto, estima-se que menos de 1% da população global tenha interagido com o Bitcoin. Ao contrário do sistema financeiro actual, restrito apenas a alguns, o Bitcoin é completamente aberto a todos. Não pode discriminar. Literalmente, qualquer pessoa pode usar ferramentas online, gratuitas, para aprender como o Bitcoin funciona, enviar e receber bitcoin ou até aprender a programar e contribuir para o próprio software do Bitcoin, ajudando a orientar a direção da economia do futuro.

Conclusão

Grande parte das tecnologias que mudaram o mundo foram ignoradas, ou criticadas ao início pela maioria. O caso do telefone, que ninguém queria comprar, ou automóvel, que certamente não funcionaria nas estradas de cavalos, o avião que não poderia ser seguro. A internet, destinada a falhar! Paul Krugman, que disse "em 2005, ficará claro que o impacto da internet na economia mundial não foi maior que o fax". Qualquer tecnologia fundamental, do frigorífico ao cartão de crédito, segue curva de adopção em S. No início do S, há sempre críticos e Velhos de Restelo. Eventualmente a curva torna-se exponencial e a tecnologia espalha-se pela Humanidade.

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É difícil imaginar uma ideia mais justa ou democrática que o facto de alguém, hoje, independentemente da sua localização, sexo, idioma, idade, educação, riqueza ou orientação sexual, possa envolver-se significativamente numa etapa tão inicial do Bitcoin. Uma tecnologia exponencial que está ainda na parte inferior da sua curva de adopção. A única coisa que te impede és tu!

Talvez seja demais para entenderes isto, que estás a ler no aconchego da tua cidade europeia. Mas, seja nas Filipinas, Nigéria, Turquia, Venezuela ou Palestina, há pessoas que não têm estes direitos básicos, liberdade ou confiança no seu sistema financeiro. E eles estão a usar cada vez mais o Bitcoin, a forma mais segura e soberana de dinheiro como forma de escape, de saída.

Traduzido e adaptado livremente do post original de Alex Gladstein, CSO na Human Rights Foundation