Europa Digital: a transição para um mundo sem dinheiro (físico)

Europa Digital: a transição para um mundo sem dinheiro (físico)

Tecnologias emergentes como a blockchain estão a remodelar o panorama do sistema financeiro tradicional na Europa.

Na primavera de 2020, tornou-se incontornável que agora vivemos num mundo com um futuro por desvendar. A mudança outrora iminente, agora alimentada pelo surto de coronavírus, acelerou o ritmo da adopção tecnológica, e o campo financeiro foi uma das primeiras indústrias a aceitá-lo. A passagem de uma cultura baseada em dinheiro para pagamentos com cartão em muitos países europeus conservadores tornou-se ainda mais notável, a par de um interesse crescente em criptomoedas e moedas estáveis (stablecoins) em particular. O que poderia ter exigido mais alguns anos de maturação tornou-se urgente à medida que o dinheiro físico se tornou um potencial vector de transmissão do vírus, enquanto novos níveis de estímulo financeiro viram os receios de inflação tornar as criptomoedas muito mais desejáveis.

Uma nova forma de olhar o dinheiro

O dinheiro pode em breve tornar-se uma relíquia do passado. Eventualmente, pode ser considerado não só como ultrapassado, mas um item perigoso num mundo pós-crise, já que ninguém sabe quando a pandemia COVID-19 terminará e o que esperar a seguir. O distanciamento social e as interacções remotas provavelmente permanecerão por algum tempo, se não anos e coisas como drones de entregas, carros sem condutor e a robótica têm vindo a ganhar maior exposição e interesse renovado.

Ao contrário dos Estados Unidos e da Ásia, que têm uma atitude positiva em relação a diferentes inovações e novas tendências, a Europa é conhecida pela sua adesão às tradições e ao conservadorismo. Mas chegou a hora de abraçar a mudança.

Na Alemanha, tradicionalmente um país avesso ao uso de outras formas de pagamento em detrimento do dinheiro físico, os pagamentos com cartão ultrapassaram recentemente o dinheiro pela primeira vez na história. Estima-se que a principal causa desta rápida mudança de pensamento são as medidas de protecção de saúde recentemente necessárias na União Europeia e no resto do mundo, forçando as pessoas a reconsiderar as suas atitudes em relação ao dinheiro. Mais de metade dos pagamentos actualmente feitos por cartão são contactless, contra 35% antes da crise do coronavírus, de acordo com a Agência Alemã de Crédito. Assim, embora pareça que o dinheiro não desaparecerá na Alemanha tão cedo, especialmente quando se trata de quantidades menores, a tendência já existe - e ganha terreno.

Além disso, o valor dos pagamentos com função de cartão de crédito na Alemanha tem vindo a aumentar gradualmente nos últimos cinco anos. Por exemplo, em 2013, o valor dos pagamentos ascendeu a cerca de 4,5 mil milhões de euros, mas em 2018 esse número subiu para 7,8 mil milhões de euros.

Além disso, os millennials também contribuíram para a mudança para pagamentos digitais sem contacto, uma vez que a confiança das gerações mais novas em novas tecnologias, como as criptomoedas, atingiu níveis recorde.

Do dinheiro digital à criptomoeda

Tendo em conta que o número de infecções por COVID-19 na Alemanha já ultrapassou os 170000, o conservadorismo deu lugar ao progresso - e não é o único país onde isso está a acontecer. A pandemia afectou o mundo inteiro, com o sector governamental a tornar-se também mais interessado na evolução da blockchain e das criptomoedas para acelerar a criação de quadros regulamentares e soluções de moeda digital do banco central (CBDC).

No final de 2019, a procura de casos de uso de moeda digital tornou-se mais evidente, e os governos começaram a mudar a sua opinião sobre a tecnologia cripto e blockchain, percebendo que não é uma novelty para geeks, mas sim uma tecnologia prospectiva para construir uma nova camada de base para um melhor sistema financeiro que optimiza muitas operações.

Além disso, ao abrigo de uma lei que foi promulgada no final de Dezembro de 2019, os responsáveis por activos digitais são agora obrigados a obter uma licença, dando a entender que cada empresa que actualmente trabalha com criptomoedas e queira trabalhar com clientes alemães deve anunciar à Autoridade de Supervisão Financeira da Alemanha, ou BaFin, a sua intenção de obter uma licença antes de 1 de Abril e apresentar um pedido antes de 1 de Novembro de 2020.

O surgimento de iniciativas globais

Entretanto, a China tem estado na vanguarda destes desenvolvimentos com o seu yuan digital, com empresas como a McDonald's, a KFC e a Starbucks alegadamente a juntarem-se à iniciativa.

Activos como o bitcoin (BTC) já foram aceites em alguns países — por exemplo, o Burger King é conhecido como uma das primeiras cadeias internacionais de fast-food a aceitá-lo como meio de pagamento. Os visitantes foram alegadamente capazes de comprar hambúrgueres com cripto em 2016 na filial holandesa da cadeia de fast-food. Mais tarde, a filial alemã do Burger King começou a aceitar o Bitcoin no seu site e aplicação móvel. E já no final de 2019, o Cryptobuyer, no Twitter, anunciou que o Burger King aceitava pagamento em criptomoedas na Venezuela.

Hoje em dia, mais europeus acreditam que as moedas digitais estão aqui para ficar. A tecnologia subjacente às criptomoedas e blockchain tem o potencial genuíno de perturbar o panorama financeiro, reduzir intermediários e oferecer uma melhor camada fundacional para pagamentos, aquisições e liquidações corporativas.

Entretanto, a Europa já manifestou interesse em moedas estáveis e CBDCs, com Malta no lugar da frente nos planos de criptografia europeia, criando e aumentando a tendência.

As criptomoedas já não podem ser ignoradas pelos governos. O novo ano começou com discussões animadas sobre um euro digital emitido pelo Banco Central Europeu. No início do novo ano, a presidente do BCE, Christine Lagarde, afirmou que o BCE quer desempenhar um papel activo no desenvolvimento da criptomoeda, sem desencorajar iniciativas privadas. Na sua opinião, os CBDCs podem fornecer aos cidadãos um meio de troca no caso do "dinheiro físico eventualmente cair".

Não é uma tendência, é uma realidade

De acordo com um inquérito realizado pela filial europeia da bolsa de Bitcoin BitFlyer, com base em 10000 inquiridos em 10 países europeus, 2/3 da população local inquirida acredita que as criptomoedas estão aí para ficar.

Além disso, comprar cripto está a tornar-se mainstream. Hoje em dia, muitas empresas permitem facilmente comprar criptomoedas. Em 2020, muitas empresas pretendem fornecer pagamentos cashless, com mais jogadores a juntarem-se recentemente ao clube de pagamentos sem dinheiro. Estes avanços apresentam uma opção muito mais fácil de comprar produtos de investimento, dado que todas as compras de cartões de crédito são, alegadamente, 100% seguras.

Os dias de hesitação e dúvidas em torno do cripto já se foram. Vivemos numa realidade em mudança onde pagamentos sem dinheiro e criptomoedas ganharam uma posição impressionante - com a remodelação da paisagem financeira mais evidente e amplamente reconhecida por muitos.

Preparado para aceitar Bitcoin como pagamento?

Em Portugal já sentimos esta evolução à algum tempo. A adopção quase em massa do MB Way, por exemplo, é exemplificativa disso. Recentemente os terminais multibanco já suportam pagamentos cashless, até €20.

O próximo passo é aceitar Bitcoin como pagamento. Ainda não é muito usual em Portugal este tipo de pagamento mas já existem alguns estabelecimentos, que aceitam pagamentos em Bitcoin e através da Lightning Network. É o caso da Cookies Bakery em Lisboa que aceita pagamentos BTC com o terminal de pagamento automático da Sparkpay.