Qual o impacto ambiental do Bitcoin?

Qual o impacto ambiental do Bitcoin?

O comummente referido "problema" do Bitcoin, é mal entendido e mal interpretado.

Recentemente tem havido um dilúvio de títulos sobre o impacto ambiental da mineração de bitcoin. Quase todos os artigos, tweets, vídeos, etc, citam o Digiconomist e/ou Cambridge como a sua principal fonte e têm uma qualquer mutação dos seguintes títulos:

"Bitcoin consome tanta energia quanto a Suiça/Argentina/Quasaquistão/..." ou "Se o Bitcoin fosse um país, o seu consumo de energia estaria entre os top 30!"

Comparar o Bitcoin com países e classificá-los ajuda bastante em fazer as pessoas acreditarem que o Bitcoin é não só uma das principais fontes de emissões, mas também um problema desmesurado em comparação com os quase 200 países do planeta. Esta comparação é quase sempre combinada com o conhecimento universal do desempenho histórico e exponencial do preço da bitcoin, deixando o leitor com uma impressão poderosa e inconfundível, ou seja, de que se o Bitcoin for deixado ficar desregulado arruinará o planeta com o seu crescimento exponencial. Um sentimento que muitos autores têm o prazer de afirmar explicitamente.

Haveria muito a dizer sobre a metodologia e as limitações destes modelos (ver aqui). No entanto, tomando os seus próprios dados como verdadeiros, o impacto ambiental da mineração de bitcoin é completamente imaterial. Comparando a produção anual de emissões do Digiconomist com os dados de emissões de CO2 do Our World In Data, descobrimos que a quota global de emissões de Bitcoin é de aproximadamente 47 milhões de toneladas de CO2, cerca de 0,13% do total global anual de cerca de 37 mil milhões de toneladas actualmente.

Este é o mesmo ponto de dados usado acima, mas contextualizado como qualquer problema global deve ser, no contexto de todo o mundo. Como tal, pinta uma imagem radicalmente diferente.

É importante notar que estas são as emissões calculadas para o Bitcoin no pico do hashrate, atingido este ano, antes da proibição da mineração por parte da China. Embora seja impossível saber o número exato, descontar o crescimento exponencial de Bitcoin desde 2009 provavelmente reduzirá em mais de metade as emissões médias por ano que Bitcoin tem sido responsável desde 2009.

Bitcoin existe há meros 12 anos. Os dados relativos às emissões relacionadas com as alterações climáticas são medidos cumulativamente e remontam a 1750, 270 anos atrás. É 21 vezes mais do que Bitcoin existe. Como ninguém pode estar 100% certo do verdadeiro impacto do Bitcoin desde 2009, tomamos a abordagem excessivamente conservadora e projectamos a actual quota de emissões globais de Bitcoin até ao início da rede e cartografamos historicamente com a quantidade acumulada de emissões. Tendo isto em conta, a quota de emissões globais de Bitcoin medida até à data torna-se ainda menor, aproximadamente 0,028% usando esta abordagem altamente conservadora.

De ressalvar as escalas destes gráficos. Como a parte das emissões globais medidas, de Bitcoin, são tão infinitamente pequenas, não é possível fazer qualquer gráfico de tamanho normal que represente com precisão a parte das emissões de Bitcoin até à data. Tal gráfico seria muito pequeno para ser visível ao olho humano.

Por último, há também uma pequena provisão com as emissões anuais de CO2 do Our World In Data. Apenas mede as emissões de CO2 provenientes da queima de combustíveis fósseis para a produção de energia e cimento. A alteração do uso da terra não está incluída. Como a energia e o cimento representam apenas cerca de 76,2% do consumo global de energia, precisamos de descontar 24%, o que significa que a actual quota global de Bitcoin em emissões medidas ronda apenas 0,098%, menos de um décimo de 1%.

Em que é que isto interessa?

Fica claro que as alterações climáticas já existiam antes do Bitcoin. O Bitcoin não causou alterações climáticas. O Bitcoin tem emissões? Sim, tudo tem mas, as suas emissões como parte do total global são completamente irrisórias.

Se levas a sério a redução das emissões, deves também querer reduzi-las de modo a obter a melhor combinação da maior quantidade de emissões reduzida, pelo menor custo e pelo ritmo mais rápido possível. O princípio económico da utilidade marginal deixa claro que, para reduzir a pequena quantidade de emissões de Bitcoin para zero, exigiria uma quantidade excessiva de dinheiro e esforço por unidade de redução. No entanto, existem numerosas indústrias em que a mesma quantidade de capital e de esforço aplicados teria uma redução significativamente maior e mensurável das emissões devido à sua escala actual. Se o teu objectivo é reduzir as emissões, a mineração de Bitcoin é um dos alvos menos eficazes e significativos que poderias ter.

Neste momento, deve estar claro que o "problema das alterações climáticas" do Bitcoin nada tem a ver com as emissões e tem tudo a ver com a tentativa de angariar apoio e justificação para regular o mercado mais livre do mundo, a mineração de Bitcoin.

Traduzido e adaptado do artigo original no The Bitcoin Magazine